segunda-feira, maio 19, 2008

Especial banda desenhada PT 3

Hoje o especial dedica-se aos "realistas", não no sentido literal mas em termos de desenho, e às vezes em termo de histórias também. Alguns autores acompanham-me há alguns anos, outros descobri-os em Bruxelas (já mencionei que já não tenho espaço para os livros de BD?), todos tocam no que é ser "adulto" mesmo que tenham muito pouco em comum. Mesmo uma história de fantasia pode ser extremamente realista, ora vejamos...

José Carlos Fernandes, Alguém desarruma estas rosas. Apesar de também gostar muito do seu Lou Velvet- Abaixo de cão, este continua a ser o meu preferido. Dizer que são contos/histórias passadas para formato BD é limitar o trabalho de Fernandes, sim, transpôs um conto de Garcia Marquez, outro de Carver, outro de Bradbury entre outros mas a verdade é que José Carlos Fernandes deu uma outra vida, uma outra luz às histórias. Outro ponto interessante são as canções transpostas para BD, há músicas que contam histórias e outras que convidam a imaginar cenários e neste volume temos ambas em formato BD. Esta colectânea de estórias é encantadora e incapaz de deixar alguém indiferente, seja pelo desenho simples mas cuidado ou pelo olhar triste e profundo das personagens. Mal regresse a Portugal vou procurar outras obras do autor peço-vos que não as comprem todas sff. Recomendo entusiasticamente. Para amantes de histórias, de traço simples e de boas covers.

Jirô Taniguchi, O homem que caminha. Admito que foi difícil escolher entre O homem que caminha (não encontrei uma imagem da capa portuguesa) e O diário do meu pai, mas já dizia um ingénuo lisboeta: "não há amor como o primeiro". Longe dos estereótipos europeus sobre as mangas Jiro Taniguchi é um fenómeno de vendas não só por ser talentoso e original mas por ser dotado de uma sensibilidade extrema. Este pequeno volume acompanha a personagem principal pelos seus passeios pela cidade, enquanto passeia o cão, enquanto observa a cidade e os seus pensamentos. Dizer que é um livro sobre um homem que caminha pode parecer simples mas Taniguchi consegue mostrar-nos toda uma cidade e toda uma vida a cada página quase que nos permitindo caminhar lado a lado com as suas personagens. Ocasionalmente algo na rua ou num jardim desperta uma memória, um pensamento e o leitor envolve-se ainda mais nos quadradinhos a preto e branco. Recomendo vivamente. Para os curiosos sobre a cultura oriental, para quem acha que mangas são o Kill Bill em papel.

Le grand mort- tome I: Larmes d'abeille, Jean-Blaise Djian et Régis Loisel. (A grande morte, tomo I: lágrimas de abelha) O primeiro tomo de uma nova aventura épica de um dos nomes mais importantes da BD francófona, Régis Loisel. Famoso por estas bandas pelas séries La Quête de l'Oiseau du Temps (a busca ao pássaro do tempo) e pela sua transposição à BD de Peter Pan, Loisel não tem nada a provar mas continua a surpreender. O cenário é de tal forma ambicioso que foram precisos oito colaboradores mas a aposta valeu a pena, cada página está repleta de imagens belas, coloridas e super detalhadas. A história, pelo menos neste primeiro tomo, é sobre um jovem negro (raro nas BDs) com acesso a um mundo mágico e com uma missão a cumprir e uma jovem francesa que só quer paz e sossego para estudar para os exames finais, ambos vão ter de descobrir se existe ou não uma forma de quebrar a profecia e voltar para o mundo que conhecem. Não tem personagens tão ricas como o Bone mas compensa com os cenários. Recomendo a cores, para quem se quer deleitar com os cenários e para quem não resiste a uma boa história épica.

Chicken with plums, Marjane Satrapi. Devido ao sucesso mundial de Persepolis (BD e filme) este pequeno volume pode passar despercebido injustamente. Desde que comprei o livro há uns meses que tenho feito um esforço para melhorar a minha técnica de vendas, visto que: "é sobre um homem destroçado pelo fim da sua música que decide pedir a Deus para morrer" não resulta muito bem. Chicken with plums é mais sobre a vida do que sobre a morte e não é sobre suícidio mas sim sobre enfrentar desgostos, as nossas famílias e as suas idiosincrasias e como encontrar forças para continuar quando o que mais amamos na vida está fora do nosso alcance. Repleto de pequenos detalhes que nos abrem as portas sobre a vida e a cultura do Irão e de um sentido de humor inesperado, esta pérola é um estudo em quadradinhos sobre a natureza humana. Recomendo sem limitações, para fãs de Persepolis, Mafalda e de personagens humanos.

Dans la peau d'un jeune homo(na pele de um jovem homosexual), Hugues Barthe.
Um adolescente de 14 anos descobre a sua sexualidade e não consegue enfrentar o facto de que é homosexual. Mas será mesmo? Afinal de contas o professor de matemática que todos os alunos juram ser homosexual tem uma namorada e o intructor de judo não parece mas é... O livro está estruturado como um guia e em parte como um falso guia, por um lado segue os passos de um adolescente inseguro e com medo de enfrentar os pais e os amigos mas por outro goza com a situação: todas as vezes que o jovem se tenta convencer que é hetero o autor omnipresente mostra-nos por A + B que não é bem assim. Bastante realista na descrição do "coming out" este pequeno volume não tem medo de gozar consigo próprio. Para jovens e adultos, excelente para famílias com sentido de humor.

Vou tentar ter a parte 4 pronta a tempo do dia da criança; yep, o próximo especial é para os petizes (se bem que eu tenho quase todos os volumes que menciono).

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2 Comentários:

Às 6:48 da tarde , Blogger Alexandre Gaspar Weytjens a.k.a. José Lus Correia disse...

Em cheio! Adoro o José Carlos Fernandes que além de meu conterrâneo (ele é de Loulé e eu de Faro) tem imenso talento. Tenho algumas das suas obras (o Barão Wrangel, Coração de Arame, etc.), entre as quais a deliciosa "A pior banda do Mundo". E ofereceram-me o ano passado :-) a "piéce de résistance": "A última obra prima de Aaron Slobodj", que na realidade é uma obra-prima de JCF. Fabuloso. Ando há dias para escrever um post sobre o JCF no meu blog, mas tenho andado sem tempo. Um dia...

Deves ter lido, mas aconselho na mesma "Persepolis" da Marjane Satrapi (em francês os volumes existem numa só colectânea que custa cerca de 32 euros). Em português, je ne sais pas...E aconselho o filme, claro. Apesar de haver cenas cortadas, elípticas, ou diferirem ligeiramente do livro, vale a pena.

Deves conhecer mas, anyway, "Maus" de Art Spiegelman é leitura obrigatória. Vais adorar, aposto.

Quanto a mim, vou registar estes teus conselhos, de autores que não conhecia e regressarei.

 
Às 9:33 da tarde , Blogger babsy! disse...

Olá, Alexandre! Obrigada pelas sugestões, se leres o primeiro guia BD que fiz verás que o Persepolis recebe muitos elogios (edição dupla em inglês por 26e); acho que vais gostar do Chicken with Plums, Satrapi mantém o estilo e surpreende tb. Conheço o Maus mas estranhamente nunca o li, tens toda a razão está mais do que na hora... saudações bd. ;p

 

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