Bélgica: uma explicação possível (IV)
Os estrangeiros:
Como eu há muitos na Bélgica. Fala-se muito de New York mas à sua escala Bruxelas é uma "salad bowl": há o quarteirão português, o quarteirão marroquino, italiano, turco, espanhol, grego, africano(com destaque para o Congo, ex-colónia belga), chinês etc
Antwerp é na Flandres o equivalente à metrópole americana com o seu lado positivo e negativo: ao lado da maior comunidade gay, do maior bairro turco da Bélgica (só se fala turco e um pouco de inglês) e de uma forte presença judaica está também a maior concentração de seguidores do partido de extrema-direita flamengo; nem sempre a combinação corre bem. Os belgas parecem ter vergonha deste facto -e falei com pessoas que votaram nesse partido - mas não entendem o facto de se criarem guettos e de existirem milhares a viver cá sem falar pelo menos uma das línguas oficiais. Toleram o pessoal que trabalha na comissão mas não os consideram integrados no país, afinal de contas, nem pagam impostos cá, dizem.
Dos muitos estrangeiros há os que se integram e os que não sabem bem onde estão. Falar uma das línguas é essencial. Para mim é uma questão de educação,não faz sentido viver num país sem tentar falar a língua. Todavia há milhares que cá vivem há anos e só falam inglês ou turco. Sim, há um problema com os Britânicos e com os turcos. Ah! e com os marroquinos também. Não é que andem por aí a criar mafias mas fecha-se em comunidades e ninguém entra, ninguém sai. Um dos problemas dos guettos é serem fechados em si mesmos; houve confrontos sérios entre os turcos e os arménios com a polícia belga a levar porrada a tentar evitar que se matassem (a sério), uma loja centenária de vinhos foi vandalizada por muçulmanos que não sabiam a idade da loja e que queriam evitar tentações aos filhos. Os britânicos têm o seu próprio supermercado, creches, escolas etc Não conhecem belgas mas queixam-se muito. Quando menciono os vários pratos belgas que adoro é como ler um livro à minha gata: primeiro abre muito os olhos a ver de onde vem o som, depois luta para fugir. A imigração é tanta que quando sou apresentada a alguém perguntam-me quais são as minhas origens e não de onde venho. A resposta pode parecer simples mas uma noite um velhote tramou-me, perguntou-me se era portuguesa (depois de falar sobre Lisboa) e quando respondi que sim e comecei a pensar que a conversa morrera, disse-me: - mas nasceste em Bruxelas. Depois de sentir o meu cérebro a sofrer um curto-circuito, admiti que sim. - eu sou "bruxellois". Num país dividido surge outro fenómeno:quem nasceu na capital bilingue não entra no ringue e é tido em conta por ambas as partes; um privilégio antes exclusivo ao rei.
Enquanto que noutros países parece haver uma distinção (ainda) entre os que nasceram no país porque os pais vieram para trabalhar e os que "sempre" foram do país, os belgas têm um orgulho extremo na mistura. Desde que fales francês ou flamengo e claro, não andes a vender criancinhas no parque recebem-te muito bem. Podes considerar-te português e ter a família a viver cá desde o tempo do teu avô ou ter acabado de chegar, não há crise. O único senão é que estão tão habituados aos estrangeiros que é preciso muito para os impressionar. Ser da Madeira resulta na maioria dos casos, da Asia nem tanto porque é mais comum. Houve uma altura em que não foi popular ser da Europa de Leste (numa semana receberam milhares e defendem-se dizendo que foi do choque) mas passou rápido. Vejo os meus colegas britânicos ainda um bocado relutantes e os belgas a ganhar reputação de frígidos, nórdicos, calmos etc mas sinceramente, se viajam no metro todos os dias com mulheres de burkas, mulheres com vestidos africanos coloridos, punks, indianos com ar cansado e cinquentonas cheias de jóias e de perfume, homossexuais de mãos dadas, miúdos da escola de várias etnias etc claro que não há muita reacção. No início andava toda contente ao escutar a babilónia dos transportes públicos mas agora já nem ligo. Gosto da mistura e do facto de haver sempre alguém a dar o lugar quando é preciso. Gosto de poder ir almoçar sushi pelo mesmo preço do indiano, do chinês ou do português. Gosto de conhecer pessoas de toda a parte do mundo o tempo todo. Mas gosto muito mais de ir sentadinha a ouvir música sem ninguém me chatear. E visto que muitos de vocês não se cansam de me dizer que a Bélgica não é um país turístico, gostava que me explicassem de onde vêm tantos turistas? Os mapas do metro têm mais saída que o jornal Metro.
Etiquetas: Bélgica, emigrantes, turismo
1 Comentários:
ai o teu guia esta cada vez mais interessante, mas de certeza que a ter em conta como a vidinha (€€€€ anda por ca, de certeza que os mapas do metro nao sao para os turistas tugas.....loooool Va de ferias ca dentro.... que ja nao e mau.....
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