domingo, fevereiro 24, 2008

Meditação sem fronteiras

Descobri por acaso no meu computador dois ficheiros "real player", como os títulos: "espelhos do tempo" e "relaxamento profundo" não me diziam nada decidi ouvir um bocadinho. Após os segundos iniciais de música colocada com o propósito de relaxar o ouvinte mas cujo efeito em mim é mais transcendente - apetece-me fazer xixi - comecei a ouvir a voz do Eládio Clímaco a dizer-me para respirar fundo. Quem não reconhece o nome tem apenas de pensar nos Jogos sem fronteiras (JSF), esse programa kitch transmitido pela RTP1 (foram tantos, não é verdade?).

Antes de desenvolver o tópico do post quero só dedicar um minuto ao apresentador com um nome maluco. Aliás, não ao Eládio Clímaco o apresentador mas à sua voz. Quantos de nós não crescemos ao som daquela voz sagrada e cristalina? E a dicção, hein? Se há alguém que possa dizer a famosa frase fascista "o rato roeu a rolha da garrafa do rei da Rússia" esse alguém é o Eládio Clímaco (aqui com as cores dos JSF). Não sei quanta informação sobre a vida animal me foi transmitida através da voz lúcida e calma de Eládio Clímaco (por acaso sabem se ele ainda faz a locução de documentários?). A sua voz assim como a de Canto e Castro (que podem ouvir aqui aos 40 segundos) fazem parte da minha infância embora de formas diferentes.

No mundo anglosaxónico há a tradição de passar livros para formato áudio. Podemos comprar os cds (duvido que ainda se faça em formato K7) do Crime e castigo do Dostoevsky, do Audacity of Hope do Barack Obama e de muitos outros. Se algum dia decidirem fazer o mesmo em Portugal sugiro a voz de Eládio Clímaco para os romances da Sarah Waters, famosa pelas suas cenas de sexo entre duas mulheres. É colocar o prazer e a informação ao mesmo nível, por um lado temos as imagens vivas da escrita da Sarah Waters e por outro a voz calma, pausada e curiosa de Eládio Clímaco. Façam um esforço por se lembrarem da voz do senhor e juntem a frases como: "os seus lábios tocaram os dela ao de leve por um breve instante, para depois sentirem uma fome até então desconhecida. A sua língua encontrou a dela..."

Acho que poderia ouvir o Eládio Clímaco ler A Aparição de Vergílio Ferreira sem ter imagens do Bexiguinha com um fato de esferovite vermelho a correr atrás da Sofia, também de fato de esferovite e de chapéuzinho ridículo, através de um campo de escorregas, tobogans, com o Alberto a tentar impedi-lo de a apanhar usando um canhão de água. Confesso que essa seria a minha primeira imagem mas mal o primeiro parágrafo acabasse estaria completamente compenetrada como quando descobri que as gazelas da América do Sul atraíam dois tipos diferentes de mosquitos.

Meditar, ou tentar meditar, com imagens dos jogos sem fronteiras tem resultados mistos; por um lado deixei de parar de pensar no dia horrível no escritório, por outro lado, e custa-me admiti-lo, dei por mim a gritar: "força, Estarreja!"

P.S. Dizem que haverá uma edição dos JSF em 2008.

Etiquetas: , , , ,

2 Comentários:

Às 7:34 da tarde , Anonymous Anónimo disse...

Agora é que te passaste completamente....
Ana.

 
Às 2:23 da tarde , Blogger Cosmopolita disse...

Oh pá, escangalhei-me a rir!!!

Passa-te mais vezes que nós estamos aqui para nos passarmos contigo.

Beijos

 

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial