domingo, dezembro 23, 2007

Leitura surpresa

Tenho de confessar que andei a evitar este livro desde que foi publicado; a ideia de ler uma auto-biografia de uma escritora de quem só li um livro não me atraía, embirro com o cada vez maior número de biografias de gente demasiado nova para poder escrever biografias e não gostei (e continuo a não gostar) dos quase trinta euros que a Waterstone's pediu por uma edição normal de um livro recente e com milhares de exemplares.

Quem foi o sábio que disse que os livros como muita coisa na vida têm um momento, uma altura certa? Esta semana fui à segunda livraria inglesa de Bruxelas, Sterling, e apesar do objectivo ter sido procurar o Going solo do Roald Dahl acabei por comprar o The mistress's daughter e devorá-lo em dois dias.

Não sendo uma biografia rígida o The mistress's daughter relata os eventos da adopção da A.M. Homes. Aos 31 anos a sua mãe biológica decide entrar em contacto e a partir daí nada volta ao normal. A. M. escreve com uma honestidade nada aconselhada nesta altura de media frenzy e com um humor cáustico que alivia a tensão da própria e do leitor. E toda a estranheza da situação e das duas famílias acabam por dar a esta auto-biografia um certo ar de ficção de humor negro.

A Isabel Allende comentou numa entrevista que com uma família como a sua não era preciso ter imaginação para ser escritora, apenas um bloco de notas; o livro da A. M. Homes com as suas duas famílias, ambas exigentes, cómicas e um pouco disfuncionais é a citação em forma de livro. Quase que apetece perguntar se a senhora não andou com um bloquinho de notas enquanto falava com os quatro pais. Como o Eminem, que através do rap e o hip-hop passou a fronteira do pessoal e público e que contou com coragem os seus problemas matrimoniais e os seus traumas de infância, este livro é catarse, expurgação contudo oferece ao leitor tempo e espaço para seguir a história e sorrir com a estranheza do ser humano.

"I grew up feeling that on some basic level my mother would never let herself get attached again. I grew up with the sensation of being kept at a distance. I grew up furious." P.6

"I am dealing with the divide between sociology and biology: the chemical necklace of DNA that wraps around the neck sometimes like a beautiful ornament - our birthright, our history- and other times like a choke chain."P.7

""Tell me a little bit about you,"I say. (ao pai biológico quando se conhecem pela primeira vez)

"I'm not circumcised."

Okay, maybe it wasn't the first thing he said, but it was certainly, the second. "My grandmother was a strick Catholic, she had me baptized. I'm not circumcized."P.45

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