sexta-feira, outubro 03, 2008

Índia II: a chegada

O primeiro dia foi claramente o pior. Talvez tenha sido do susto, do choque cultural, da diferença de horários e temperatura mas não há dúvidas que o primeiro dia na Índia foi o pior de todos.

O balde: Um banho indiano.

Acordamos com alguém a dar um encontrão na porta do quarto. Devia ser a senhora da limpeza mas não recomendo como despertador. O nosso hotel era tão manhoso que não queríamos sair do quarto e depois de cerca de 20 minutos de discussão decidimos fechar as malas com o cadeado, trancá-las com uma corrente anti-roubo, fechá-las dentro do armário e pôr o aviso "do not disturb" na porta.

Depressa nos apercebemos que não estávamos na parte chique da cidade. Começamos por olhar para o chão quando um homem (ou dez) parava de andar e ficava a olhar para nós. Seguimos em frente até não haver mais pessoas a vender fosse o que fosse. Não foi fácil: há montes de pessoas na rua, cães e merda de cão, carros, motas, rickshaws e todos funcionam numa ordem, numa lógica que nos escapa. Movimentos antes simples como atravessar a rua são complicados e cansativos. Tenho de me concentrar em não ser atropelada, em não esbarrar em pessoas, em não me separar da Maggie, em não pisar merda de cão, em memorizar o caminho para o regresso, prestar atenção às mochilas... Outro factor importante é o calor, acabadas de chegar de Helsinki parecia que tinhamos acabado de entrar numa estufa. Não tinhamos água e não podíamos beber da torneira e não víamos onde comprar mais. Ao fim de quase uma hora de andar sem rumo e super concentradas achamos uma farmácia onde comprei um creme para os lábios e uma garrafa de água. Verificamos que estava bem fechada (é importante) contudo ficamos desconfiadas porque tinha um sabor estranho.
Ora se o norte fica para a frente e o hotel fica no fim do mundo...

Fomos seguidas durante mais de meia hora por um indiano feioso. Decidimos apanhar o metro. É super moderno e limpo e para nossa surpresa muito mais vazio do que a rua. Temos de passar por detectores de metais: há uma entrada para as mulheres, infelizmente só reparamos depois. Abrem as mochilas e espreitam tudo. O metro era muito parecido ao de Lisboa, há uma secção para as mulheres onde estavam sentados homens de várias idades, decidi olhar pela janela para não reparar nos olhares. Após três ou quatro paragens chegamos a uma das praças principais, super elogiada no nosso guia. Entramos em choque, a praça é um misto de edifícios coloniais podres, mercado de rua, lojas com segurança à porta, exército e mais carros do que parece humanamente possível. Somos seguidas por um comediante. Após uma volta completa à praça (cerca de meia hora) não tinhamos sítio para comer e eu já tinha desviado a primeira mão apalpadora, por pouco não bati no homem. Entramos no Macdonnalds de puro desespero. Segurança à porta, abre as mochilas, comemos batatas fritas e bebemos água. Um senhor com as duas filhas pergunta-nos de onde vimos (pergunta que ouviríamos ad infinitum durante a nossa estadia) e nós aproveitamos para fazer perguntas. Por mero acaso diz-nos que no dia anterior tinham explodido três bombas naquela praça e que outras duas tinha sido desactivadas. Aconselhou-nos a regressar ao nosso país depressa. Ao menos isso explicava o exército na zona e o metro estar tão vazio. Perto do café encontramos um mapa que indicava que havia coisas para ver na zona. Após outra hora sofrível chegamos a esta zona:

Não sei explicar a nossa felicidade e frustração ao contemplarmos os edifícios, andamos cerca de 4h na cidade para encontrar este espaço.

Só depois de muito procurarmos no guia é que percebemos que estávamos no ministério de não sei o quê, de frente para a casa do presidente e a alguns metros do parlamento.

Os indianos parecem gostar muito de simetria, os edifícios eram idênticos, um em frente ao outro. O sol estava na minha direcção, não deu para tirar uma foto à casa do presidente, apenas a este detalhe da entrada:

Com o avançar das horas decidimos regressar ao hotel. Tivemos problemas em reconhecer o caminho a partir do metro. Sim, tinhamos tentado prestar atenção e sim não era muito longe mas um dos grandes problemas para os estrangeiros é que não há placas com nomes de ruas ou grandes referências. Mesmo quando há lojas há vendedores de tapetes e de tudo em frente, é possível andar horas a fio sem reconhecer algo. Andamos cerca de 2h às voltas na mesma zona. Outro problema é que os indianos detestam dizer que não sabem, então fomos indicadas para cinco direcções diferentes. Já de noite uma senhora mostrou-nos uma ruazinha que reconheci, quase que corremos para a entrada do hotel. Não há muita iluminação nas ruas à noite e continua a haver muito trânsito, senti-me um coelhinho em frente aos faróis tanta vez... Estávamos completamente exaustas e fomos seguidas até ao quarto por três empregados às risadinhas. Não havia água quente. Interrogamo-nos se não foi um erro vir à Índia.

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