sábado, novembro 25, 2006

Uma vela atrasada mas sentida

É o que dá andar fora da realidade. Na segunda-feira morreu um mestre inconformado e irónico do cinema e eu só soube hoje. (Não fui à internet, não tenho televisão e não leio jornais há semanas. Espero voltar a mergulhar na realidade agora que tenho internet em casa, mas conto com a vossa colaboração.)

1925-2006

O cinema perdeu Robert Altman. Um realizador (e produtor, argumentista, editor, actor etc) prolífico (a sua carreira estende-se desde o final dos anos 50), por vezes inconstante mas brilhante, igual a si mesmo, cheio de charme com a resposta na ponta da língua (Sobre a sua relação com Hollywood: "We're not against each other. They sell shoes and I make gloves."). Não é que a sua morte apanhe alguém desprevenido, afinal de contas o realizador Paul Thomas Anderson (Magnolia, Punch-drunk love) esteve presente na rodagem do seu último filme A prairie home companion não fosse a saúde de Altman impedi-lo de terminar o trabalho. Mesmo assim a ideia de Altman não fazer outro filme entristece-me. Entre a sua imensa contribuição para o cinema encontramos:Alfred Hitchcock Presents;M*A*S*H; The long goodbye; Nashville; Popeye; Precious blood; Come back to the five, Jimmy Dean, Jimmy Dean; Beyond therapy; Black and blue; Kansas city; Dr T and the Women; Gosford Park; The company; Tanner on Tanner; A prairie home companion... Os seus filmes foram e são muitas vezes difíceis de resumir, de explicar, não se trata apenas do mais do que gasto "boy meets girl". É a história e a de todos os secundários envolvidos, dos sentimentos de toda essa panóplia humana, é a história e cultura da época, é crítica social, é uma pausa sobre uma árvore num jardim quando finalmente a brisa do norte sopra quente e como essa brisa pertence às personagens. E era a alma dum cineasta que não teve medo de improvisar e de abrir as asas:"What I'm looking for is occurrence, truthful human behavior. We've got a kind of road map, and we're making it up as we travel along.".

Na minha opinião o que o cinema mais perde nesta febre imparável de politicamente correcto é o humor, o sarcasmo, a ironia e a capacidade de pensar fora dos parâmetros estabelecidos pelas caixas registradoras e pelas pipocas. O seu legado é imenso. Há muito a (re)ver e a degustar como um bom vinho, com calma e um sorriso a formar-se timidamente.

"Retirement? You mean death, right?"

0 Comentários:

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial