domingo, abril 13, 2008

Ler não mata

Só sei que ao ler O jardim do Éden do Hemingway senti um aperto no coração, um começo de vómito na garganta, um tremelique nas mãos, um apito nos ouvidos; comecei a ter cabelos brancos pouco depois.

Não quero apontar o dedo a falecidos mas as aulas de Literatura Americana sobre o The sun also rises foram as mais longas de sempre, principalmente quando as minhas colegas todas com idade para serem minhas mães se perdiam em elogios à escrita do grande americano e eu só mordia a língua ou escrevinhava no caderno orações satânicas. Não sei o que aconteceu, quando era miúda li O velho e o mar e lembro-me de gostar, de falar aos amigos, talvez fosse porque ainda vivia na ilha e a humidade é bastante alta; anos depois O jardim do Éden deu-me vontade de destruir o livro, antes de se ter suicidado devia ter queimado a merda do manuscrito evitando assim que os fanáticos do grande americano o editassem. E o The sun also rises, for fuck's sake! Por mais que o meu professor elogie a obra continuo a considerá-la abaixo de muita fasquia de qualidade, de sanidade, um relato parvo de uma personagem bêbada (não eram sempre?), uma história previsível, um começo de vómito na garganta...

Imagino que muitos de vocês fazem parte do grupo que consideram o Hemingway um grande escritor, têm todo o direito mas lamento muito. Para além de ser um escritor limitado as suas histórias eram calculadas, mas tão calculadas que eram previsíveis; detesto personagens iguais de um livro para o outro apenas com um nome diferente, com aventuras e conversas semelhantes que deixam o leitor com o conhecimento de tudo antes de virarem a página. A Ana Teresa Pereira, por exemplo, utiliza frequentemente o mesmo nome para suas as personagens e muitas vezes parecem ser resquícios de obras anteriores, contudo, têm desventuras diferentes e muitas vezes as personagens parecem reconhecer-se embora não saibam de onde; apesar da sua obsessão com certas linhas e certas personagens, apesar de às vezes o desfecho ir na mesma linha que um desfecho anterior não são finais previsíveis, relatados por uma personagem anterior a tentar morrer em grande estilo. Eu sei que o Nietzsche disse que os nossos erros estão destinados a repetirem-se para toda a eternidade mas quer-me parecer que o Hemingway levou a frase demasiado literalmente.

Imagem daqui.

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