quarta-feira, outubro 04, 2006

A questão

Ocorreu-me que não expliquei bem a questão. Há dias proferi o que alguns consideraram um sacrilégio, disse preferir utilizar a língua inglesa em certas situações. Permitam-me que me explique melhor: sim, o português é a minha língua materna e sim, gosto muito de falar português e irrito-me quando cometo erros porque deveria saber esta língua muito melhor e apesar de às vezes não parecer é e será a língua que conheço melhor. Contudo, acredito que em certas ocasiões o inglês me é mais do que útil (no sentido de poder comunicar com pessoas de toda a parte do mundo), é também mais acessível e fácil.

Não estou a pensar em termos literários, nesse caso escolheria o português mas apenas para os autores portugueses, ler traduções -nem menciono as inúmeras traduções ridículas que existem - é sempre um risco porque o texto é diferente noutra língua ou como diziam alguns dos meus professores e colegas, é outro texto (em alguns casos extremos eram mesmo outros textos tais eram as alterações).

Em situações em que estou menos à vontade como quando entro numa sala cheia de gente vestida a rigor, em entrevistas de emprego e o pesadelo dos meus pesadelos, a bendita conversa de circunstância prefiro falar inglês porque me sinto mais à vontade.

Não quero com isto dizer que o meu conhecimento da língua inglesa é mais aprofundado do que o da língua portuguesa. A questão é que a equação do inglês é mais simples; sei muito mais facilmente como ser educada ser ser demasiado educada, não apenas porque não tenho de me preocupar com o "tu" e o/a "senhor/a", mas sim porque a língua inglesa é mais sintética e menos ambígua. Claro que o inglês também é traiçoeiro (esta frase fora de contexto parece referir-se a uma pessoa de naturalidade inglesa) mas quer seja porque já vi demasiados maus filmes com entrevistas que correram mal ou cheios de conversa em elevadores ou porque falar em inglês ajuda a quebrar o gelo, a verdade é que nos momentos que já referi se pudesse utilizava sempre ou quase sempre o inglês.

E outra verdade incómoda é que cada um tem a relação que tem com as línguas. O problema, na minha humilde opinião, é que queremos sempre ter amigos no clube ou achar que só há um certo e um errado.

Por exemplo, eu acho errado que se ache errado dizer palavrões; se a língua é tão arbitrária como dizem eu poderia utilizar "guarda-chuva" em vez de "merda" mas a sociedade optou por definir palavras normais e permitidas e as não permitidas. E eu desde que me apercebi disso que faço questão de dizer palavrões todos os dias. Não os digo no trabalho, em funerais etc porque sei que as pessoas não pensam como eu e até estou habituada mas irrita-me (A tal questão de querer amigos no clube). Digo palavrões porque acho que não são palavras feias, são o que as pessoas fazem delas. Uma colega de faculdade quando tinha sete ou oito anos ficou de castigo um dia porque chamou o pai de "reaccionário" (influências da Mafalda).

"Não se deve julgar os homens pelas suas opiniões, mas por aquilo que essas opiniões fazem deles."(Georg Lichtenberg, Observações e Pensamentos. )

Apesar de parecer campanha eleitoral, não pretendo trazer malta para o clube até porque a maioria dos meus amigos não tem problemas de timidez, embaraço, falta de assunto etc logo não precisa desta utilidade do inglês. E definitivamente não quero tornar-me num tio que eu cá sei que fica meses e anos a remoer nas coisas e a reclamar aos altos berros sobre as coisas que não percebe ou com as quais não concorda. E porque quando posso acompanhar a lógica gosto que me mudem a opinião. Mas gosto que me deixem explicar. E será sacrilégio também ser mais fácil explicar por escrito que oralmente?

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